O talento contundente de Ferreira
Gullar é posto a mostra mais uma vez em sua mais recente publicação, o livro de
poemas Em alguma parte alguma.
A musicalidade gerada por
assonâncias, aliterações e rimas bem empregadas cria um triângulo amoroso entre
o poeta, sua obra e seus leitores, fazendo da leitura de cada poema um momento
único.
Gullar consegue, nas três partes
que compõe a obra, fazer florescer a poética da vida: esta nasce na aranha, que
inocentemente caminha sobre um livro; passa pelo gato – amigo inseparável do
poeta; caminha na Rua Duviver; viaja por planetas e galáxias; amadurece nas
bananas podres (bananas essas que quase se tornam lendária); para, por fim,
tornar-se eterna – assim como a morte com quem Rainer Maria Rilke se defronta.
Cada aspecto é, então, medido,
comparado e analisado: a pequenez ganha magnitude em frente ao universo e ao
tempo; comprovando, a cada um de nós, a grandiosidade de Ferreira Gullar. Não é
à toa que Em alguma parte alguma lhe
rendeu um Prêmio Camões, a maior distinção entregue a um autor de Língua
Portuguesa.
FALAR
A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.
A poesia é, na verdade, uma
fala ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz embaixo
do falar e no falar se cala.
Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma.
mesmo que não se ouça coisa alguma.
Livro: Em alguma parte alguma
Autor: Ferreira Gullar
Gênero: Poesia
Editora: José Olympio
Páginas: 143
Sobre a Autora:
Fernanda Rodrigues é bacharela em Letras (Português e Inglês) e estudante do curso de Formação de Professores na USJT. Além de ser professora de Língua Inglesa, é louca por assuntos que envolvam a Literatura, as demais artes e o processo de ensino e aprendizagem. Escreve no Algumas Observações, no Escritos Humanos, no Teoria, Prática e Aprendizado e no Barbie Nerd. |
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